Jornalista Jânio de Freitas sugere reação do governo à ameaça
do grupo dos insatisfeitos: “A presidente comunica que irá à TV todos os dias,
em aparição oficial, para informar ao país --aos eleitores-- os nomes dos
deputados que exigem vantagens descabidas para votar iniciativas e soluções
esperadas
pela população”
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– O jornalista Jânio de Freitas ironizou a formação do
chamado “blocão dos independentes”, grupo de aliados insatisfeitos com o
governo: “São os que dependem, para qualquer dos seus objetivos, de cargos
governamentais, de dinheiro liberado pelo governo e de outras deformações para
fazer o seu comércio político, e outros comércios”.
Segundo Janio, a
chantagem passa a ser um componente da Câmara como instituição. Ele sugere uma
reação do governo: “a presidente comunica que irá à TV todos os dias, em
aparição oficial, para informar ao país --aos eleitores-- os nomes dos
deputados que exigem vantagens descabidas para votar iniciativas e soluções
esperadas pela população”.
Leia o artigo na
íntegra:
JANIO DE FREITAS
Black blocão
É o blocão
da chantagem; eles se dizem independentes, mas são os mais dependentes de
verbas e cargos da União
Eles se dizem "independentes". São os que
dependem, para qualquer dos seus objetivos, de cargos governamentais, de
dinheiro liberado pelo governo e de outras deformações para fazer o seu
comércio político, e outros comércios. Agregados em oito aglomerações que se
fazem chamar de partidos, associaram-nas para a ação na Câmara sob o nome geral
de "blocão".
Os líderes dos oito partidos, reunidos na casa do
idealizador do blocão, deputado Eduardo Cunha, não pouparam clareza no
propósito de opor resistência, com cerca de metade do plenário, às propostas e
necessidades da Presidência da República nas votações da Câmara.
Exceto o Solidariedade do Paulinho da Força, PMDB,
PDT, PTB, PP, PSC, Pros e PR são "partidos aliados" do governo.
"Aliados insatisfeitos." Porque não recebem do governo "a
atenção" desejada. A resistência terá, portanto, a finalidade de torná-los
satisfeitos.
Resistir para provocar negociação. Negociação para
ser atendido em indicações a cargos públicos, dinheiro do Tesouro Nacional
liberado pelo governo e outras deformações que alimentam a política como
comércio.
Logo, o que está criado na Câmara é o blocão da
chantagem. Não mais a chantagem de uma bancada, nem a chantagem de dirigente
com meios de direcionar a pauta, sustar votações, marcar ou evitar sessões
extraordinárias. A chantagem passa a ser um componente da Câmara como
instituição.
O esperável do governo é que procure contornar ou
atenuar seu novo problema buscando entendimentos com alguns dos líderes e
movimentando o vice-presidente Michel Temer, para agir no PMDB. É pena, mas a
resposta do governo não será a necessária, a que seria a resposta à altura.
Os deputados do blocão serão, quase todos, candidatos
a reeleger-se. Ou a mandatos mais ambicionados. Chantagem do blocão? O primeiro
passo da resposta poderia ser apenas um aviso: a presidente comunica que irá à
TV todos os dias, em aparição oficial, para informar ao país --aos eleitores--
os nomes dos deputados que exigem vantagens descabidas para votar iniciativas e
soluções esperadas pela população.
De quebra, despejo logo do governo, para
confirmar sua disposição, de uma dúzia de pendurados em bons cargos por
indicação de deputados.
O governo depende da Câmara e do Senado. Mas os
deputados com força eleitoral bastante para garantir-se são muito poucos. A
diferença é que uns têm audácia. O outro é herdeiro do longo vício de ajoelhar-se.
INJUSTIÇAS
A comemoração de 20 anos do Plano Real foi uma
homenagem à injustiça. O plano só existiu porque Itamar Franco estava
determinado a arriscar tudo contra a inflação. Antes de Fernando Henrique
chegar à Fazenda, Itamar destituiu dois ministros, Paulo Haddad e Gustavo
Krause, por relutarem em lançar um projeto anti-inflação radical, mais um,
Eliseu Resende, por falta de condições políticas para a tarefa.
Fernando Henrique só lembrou Itamar Franco para falar
do convite que lhe entregou o Ministério da Fazenda, e a versão é, no mínimo,
imprecisa.
Foi ainda a persistência de Itamar que fez Fernando
Henrique afinal desengavetar o plano, que já estava pronto há quase um
semestre. E disso veio a outra injustiça da comemoração. André Lara Resende só
foi citado no discurso de Fernando Henrique em cambulhada com uma fieira de
nomes, presentes até quem não colaborou --ainda bem-- sequer com vírgulas no
projeto. André Lara, uma inteligência criativa, foi o artífice do plano, com a
colaboração também imaginosa de Pérsio Arida.
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos, terças e quintas-feiras.
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