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DE FEVEREIRO DE 2014
CONSEGUIRÃO
“ACABAR COM
ESSA RAÇA”?
Afinal, por que buscam tanto
atingir ao PT?! Por que alguns têm tanto ódio do Lula? Por que tanto ódio do
José Dirceu e do Genoino?
Difícil entender
LULA MIRANDA
Certo político
ultraconservador disse, pouco tempo atrás, uma frase que restou eternizada pelo
indisfarçável ranço autoritário que trazia em seu bojo, e denotava, de modo
eloquente, o poço em que decantada se escondia a lama e os resíduos mais
fétidos do pensamento conservador das nossas elites reacionárias:
"Nós
vamos acabar com essa raça!". Algo nessa linha.
Essa frase imperativa,
intolerante e "lapidar", foi de certo modo imortalizada e forjada em
chumbo no panteão das frases infames.
Os ataques ao Partido dos Trabalhadores são tão virulentos,
grosseiros, multifacetados, parecem partir de todos os lados e de todos os
veículos da grande imprensa, injustificados na maioria das vezes, que no fim
das contas fica a impressão que existe um consenso antipetista na grande mídia.
Algo que já não nos causa assomo ou estranheza. Parece que há uma espécie de
campeonato pra ver quem mais fala mal do PT – com maior competência, ardil,
desfaçatez ou espalhafato.
Ministros, promotores, âncoras das TVs, colunistas dos "jornalões",
trolls irados nos espaços de comentários dos blogs e sites. A triste malta
antipetista...
Afinal, por que buscam tanto atingir ao PT?! Por que alguns têm
tanto ódio do Lula? Por que tanto ódio do José Dirceu e do Genoino? Difícil
entender.
Chegaram à irresponsabilidade e inconsequência de se pretender
sabotar uma Copa do Mundo realizada no Brasil, sem se preocupar, minimamente,
com o prejuízo imensurável que tal colossal burrice pode acarretar ao país.
Será que essa "bronca" é devido àquilo que esses
homens fizeram em prol do povo brasileiro, em benefício dos mais humildes e
desamparados? Ou seria por aquilo que deixaram de fazer? Será que a nossa
elite, como diria aquele personagem do saudoso Chico Anísio, "detesta
pobre"? Detesta pobres, pretos, putas, "pederastas" [com o
perdão da palavra] e... petistas – isto sim!
Será que é por causa do tal "mentirão"? Ops! Quero
dizer, "mensalão"? Não! O "mentirão", como o próprio nome
entrega, não passa de uma mentira, um mero pretexto para destilar o ódio e linchar
alguns "bois de piranha" em praça pública, em usual catarse, pois a
malta tem sede de sangue e a boiada dos hipócritas e falsos moralistas precisa
atravessar incólume o rio repleto de pequenas criaturas que se movem pelo ódio.
Ódio de classe?
Sou um filho da elite, já confessei aqui, mais de uma vez, mas
sou também uma testemunha ocular da nossa história contemporânea e vi, com meus
próprios olhos – não, ninguém me contou, eu vi – as transformações que o PT e
seus aliados na sociedade propiciaram ao país. Propiciaram e ainda estão
propiciando.
O que mais me espanta é que foram mudanças realizadas sob a
égide da Justiça e do respeito aos contratos e ao Estado de Direito. Tudo
dentro das regras do capitalismo e da democracia – pois esse é o caminho correto
a se trilhar. E, por isso, nem venha me falar em Cuba, meu camarada! Nem em
históricos espectros ou espantalhos como Stalin, Mao et caterva. Esconjuro!
Na vida real, ninguém foi punido devido aos bárbaros crimes
cometidos na ditadura! Nenhuma empresa foi expropriada ou estatizada – deu-se o
contrário! Quase nenhum recurso roubado e expatriado para paraísos fiscais
pelas elites corruptas foi repatriado! Sequer houve qualquer taxação
extraordinária das grandes fortunas ou dos megassalários!
Ou seja, o PT não fez nenhuma revolução! Apenas começou, de modo
tímido, incipiente mesmo, a repartir um pouco o tal já famoso "bolo"
– que não é exatamente aquele, de limão ou de coco, que as senhoras de
Higienópolis em SP (ou do Leblon, no RJ) saboreiam tranquilamente no chá das
cinco.
As transformações deram-se (e ainda se dão) de modo paulatino.
Pois, sabe-se, foram séculos de exploração e abandono dos mais pobres. Não se
pode passar do inferno ao paraíso em uma década! Aliás, as nossas elites
conhecem muito bem o paraíso – notadamente o fiscal. O inferno, claro, são os
outros.
Mas, confesso, eu me embriago de contentamento com algumas
dessas pequenas transformações.
Por exemplo, soube anteontem que os dois filhos de um dos
vigilantes da rua onde moro estão estudando engenharia.
Só fiquei sabendo dessa boa nova, por esses dias, e isso me
encheu de uma alegria tão genuína, que parecia que eram meus aqueles filhos.
Foi emocionante a cena de ver aquele rapaz caminhando, a passos lentos, em
minha direção para me mostrar, com aquele jeito tímido típico dos mais
humildes, a carteirinha de estudante, dizendo, meio sem jeito:
- Seu Luiz, veja isso aqui...
Por isso, com sua licença, vou repetir essa frase, com o devido
destaque:
Os filhos do vigilante que trabalha na rua em que resido estão
cursando faculdade de engenharia!!!
Só esse fato já diz muito do Brasil de hoje e, acredito, é
revelador do porquê de alguns desejarem em seu intimo de maneira tão odienta
"acabar com essa raça".
Lembro-me agora de uma velhinha [negra e pobre, por óbvio] que,
macérrima e alquebrada, carregava, para cima e para baixo, pesados fardos de
papelão, aqui perto do meu trabalho, para vender como material para reciclagem.
Além de ficar penalizado, e de lhe dar algum dinheiro para que fosse para casa
descansar, orientei-a então a que procurasse o benefício do Bolsa Família. Hoje
ela já não carrega fardos de papelão, ladeira acima, todos os dias, em pleno
sol a pino.
Sei não, mas mais parece que a "raça" que tem que ser
extinta é essa gente que quer/deseja um país para poucos, que quer manter o
velho e ultrapassado país de Casa-Grande e Senzala.
Perceba que os petistas não arrombaram as portas da casa-grande
a pontapés. Estão entrando "na moral".
Na verdade, o seu [dos petistas] sonho, mas também nosso; a
sua/nossa utopia, cá entre nós, é transformar a senzala em casa-grande. Ou ao
menos acabar com a hipocrisia de um apartheid dissimulado. Mas, eu bem sei,
isso é coisa de sonhador.
Por isso, os petistas estão – e devemos nos somar a eles –
realizando a utopia "comendo pelas beiradas".
Ô raça essa!!!
Por que será que querem acabar com a essa raça mesmo?
[Faça-me um favor, gente fina, avisa lá pra aquela "Vossa
Excelência", lá em Brasília, que eu sou um cabra retado do Nordeste e que
comigo não tem fuleragem, não. Diga-lhe ainda que o dinheiro, um dos principais
vetores de infecção do corpo e da alma, o meu [dinheiro] eu lavo lá no rio da
baixa da égua e o que sobra, limpinho, cheirando a alho, a gente deposita lá
nas Ilhas Carimã [sic]. Porque esse negócio de comprar apartamento e até tampa
de privada em Miami e é coisa de novo rico rastaquera].
Nota: Carimã, para os que não conhecem, é uma espécie de massa
ou bolo que se faz de um determinado tipo de mandioca na região norte e
nordeste do Brasil. Foi utilizado aqui, claro, como um trocadilho às Ilhas
Cayman, conhecido paraíso fiscal dos endinheirados brasileiros que querem lavar
dinheiro e fugir do fisco.