28 DE MAIO DE 2014
DCM:
CHAMAR REGULAÇÃO DA MÍDIA
DE CENSURA É MÁ FÉ
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Colunista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo,
resgata frase de Eça de Queirós, ao abordar como o tema da regulação da mídia
vem sendo tratado pela mídia tradicional, que vê censura na iniciativa;
"há aí uma mistura de má fé cínica com obtusidade córnea", diz
Nogueira, que vê a medida como essencial para a democratização do País
Por
Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo –
O
argumento mais imbecil contra a regulamentação da mídia é a que a associa com
“censura”.
Na
grande definição de Eça, há aí uma mistura de má fé cínica com obtusidade
córnea.
Todas
as sociedades desenvolvidas regulam sua mídia. Estabelecem regras para diversas
questões que são simplesmente ignoradas no vale tudo nacional.
Por
exemplo: direito de resposta. Na Dinamarca, se você comete uma injustiça cabal,
é obrigado a se retratar rapidamente e em espaço nobre.
Por
exemplo: a Veja atribuiu a Gushiken um gasto exorbitante com dinheiro público
numa refeição. Isto se provou calúnia, mentira, e não fato.
Gushiken,
atacado na honra, jamais teve uma reparação na revista.
É
certo isso? É bom isso? É certo e é bom apenas para as empresas de mídia, que
recebem licença para matar moralmente seus inimigos.
Fiscal
tem que ser fiscalizado. A mídia se coloca como fiscal, sem ter aliás recebido
delegação popular para isso, mas se recusa a ser fiscalizada. É um paradoxo, e
é um horror para a sociedade.
Nos Estados
Unidos, para evitar o monopólio de opinião (e de negócio) e estimular a
pluralidade, nenhum grupo pode ser dono de múltiplas mídias, como a Globo.
A
Globo usa seus diversos braços, ou garras, de forma selvagem, para asfixiar a
concorrência.
Um
executivo da Unilever me contou que, nas negociações sobre publicidade, a Globo
enfia o G1 goela abaixo do anunciante.
Para
a livre concorrência, é um pesadelo. Para o monopólio da Globo – que hoje detém
60% da publicidade do Brasil com apenas 20% da audiência – é um sonho. Para a
sociedade, uma tragédia.
Veja
na prática: uma única voz que represente o conservadorismo e os interesses da
Globo se multiplica por todas as mídias, e isso manieta a opinião pública.
Merval
Pereira, digamos. Ele está no Globo, na Globonews, na CBN, no G1 etc etc. Ou
Míriam Leitão. Ou Jabor.
Mais
uma vez, é bom para a Globo, e para os colunistas que são sua voz. Estes,
graças à superexposição, acabam tendo enormes facilidades para ganhar dinheiro
em palestras nas quais vão repetir o que a Globo quer que eles digam.
Você
vai encontrar feroz resistência à ideia da regulação nas grandes empresas de
mídia – e em seus colunistas. Estes extraem vantagens consideráveis do status
quo. Seus mensalões são duradouros e protegidos com imenso cuidado por quem
abastece seus bolsos.
(continue lendo no Diário do Centro do Mundo)
26 DE MAIO DE 2014
O BRASIL PINTADO
PELA MÍDIA
Graças à liberdade de imprensa, sofremos diariamente um
bombardeio de informações que, infelizmente, nem sempre expressam a verdade e,
por isso, devem ser analisadas
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O Brasil está melhor
ou pior do que há 20 anos? Muita gente – mais precisamente aquelas pessoas que
não usam a massa cinzenta para pensar – responderá: Muito pior. Por quê? Porque
– dirão – a violência e a corrupção aumentaram escandalosamente. Essas respostas
por si só já serão suficientes para revelar a pobreza de raciocínio de alguns e
a tendência política de outros. Isto porque, na verdade, o que aumentou mesmo
foi o volume e a velocidade das informações recebidos hoje pelas pessoas, em
todos os recantos do país, graças ao extraordinário avanço dos meios de
comunicação.
Explica-se: estamos hoje melhor informados do que há 20 anos
sobre o que acontece no Brasil e no mundo. Sentados confortavelmente em nossa
poltrona favorita e sem nenhum esforço, bastando apenas acionar o botão do
controle remoto para ligar a TV, ficamos sabendo de tudo o que acontece no
mundo inteiro, inclusive assistindo alguns eventos em tempo real, como o
futebol, por exemplo, mesmo que tenham como palco o Japão, no outro lado do planeta.
O celular e a internet também fazem parte dessa estrutura de comunicação que
deixou conectados praticamente todos os habitantes da Terra.
A televisão e a internet, portanto, transformaram o nosso
planeta na aldeia global preconizada por McLuhan e passamos todos, mesmo os que
residem nos lugares mais remotos, à condição de testemunhas oculares da
história. Cabe a nós, no entanto, usando o cérebro – o que infelizmente muita
gente não faz – o trabalho de processar as informações que nos chegam a todo
momento através dos veículos de comunicação de massa, de modo a separar o joio
do trigo. Graças à liberdade de imprensa, sofremos diariamente um bombardeio de
informações que, infelizmente, nem sempre expressam a verdade e, por isso,
devem ser analisadas. Lamentavelmente, porém, os quase anencéfalos preferem,
por comodidade ou preguiça mental, digerir as informações como elas chegam. E
passam a pensar pela cabeça dos que as divulgam.
A violência, na verdade, é proporcional ao tamanho da população,
mas não sofreu nenhum aumento. O que acontece é que todos os atos de violência,
em qualquer parte do país e do mundo, chegam ao conhecimento de todos,
inclusive com vídeos que revelam a sua crueza. Através dos veículos de
comunicação – ou mesmo da internet – ficamos sabendo de um crime no interior do
Rio Grande do Sul ou da morte de detentos no presídio do Maranhão, de um
linchamento no interior de São Paulo ou de um vaso lançado na cabeça de um
torcedor em Recife, de um atirador solitário nos Estados Unidos que mata vários
estudantes ou de um atentado que provoca a morte de dezenas de pessoas no
Oriente. Em qualquer lugar há sempre uma câmera registrando tudo, inclusive
assaltos de rua, e cria-se a falsa idéia de que a violência aumentou. Antes da
televisão e da internet, quem mora no Acre, por exemplo, demorava quase um mês
para saber que um famoso ator morrera no Rio.
O mesmo acontece com a corrupção. A corrupção sempre existiu no
mundo desde as épocas mais remotas e no Brasil desde a sua descoberta, mas
nunca foi tão falada como agora. No período da ditadura não havia notícias de
corrupção, o que, no entanto, não significa que não existisse, mas apenas que
eram escondidas pela censura. No governo de Fernando Henrique Cardoso, por
exemplo, o diretor da Policia Federal era demitido todas as vezes em que as
investigações sobe corrupção se aproximavam do Palácio do Planalto. E a chamada
Grande Imprensa, aquinhoada por FHC, fazia vista grossa para as denúncias,
adotando um comportamento completamente diferente do que tem hoje. Não havia
interesse em divulgar o lado negativo do governo tucano, o que também não
significa que não havia corrupção. Basta lembrar, entre os casos mais
escandalosos, o Projeto Sivam, a pasta cor-de-rosa, a emenda da reeleição, etc.
É justamente quando existe censura ou a imprensa se cala que a corrupção mais
corre solta.
Ouve-se hoje com frequência esta frase, pronunciada com
indignação contra o governo: "Todos os dias os jornais estampam em suas
páginas noticias de corrupção". Ou seja, eles fundamentam sua opinião no
que "os jornais estampam", o que nem sempre significa que os fatos
noticiados sejam verdadeiros. Além disso, raras são as pessoas que se lembram
de que a Policia Federal é órgão do governo e, portanto, é o governo que está
combatendo a corrupção. É preciso lembrar, também, que a liberdade de imprensa
é fruto da democracia, fundamental para o seu fortalecimento, pois permite que
o povo tenha conhecimento de tudo de bom e ruim que acontece no seu país. No
Brasil de hoje, no entanto, essa liberdade só é usada para divulgar os fatos
negativos, alguns inverídicos e outros superdimensionados, o que leva os quase
anencéfalos a formar opinião negativa dos governantes.
Essa, aliás, é precisamente a intenção da Grande Mídia, conforme
deixou escapar numa inconfidência o tucano Álvaro Dias: pintar um quadro negro
do país, demonizando o governo para facilitar a eleição do tucano Aécio Neves,
candidato oposicionista à Presidência da República. O motivo é claro: os donos
dos grandes veículos de comunicação querem voltar a ter os privilégios que
desfrutavam no governo tucano de Fernando Henrique, pois o governo petista
parece que não foi muito generoso com eles. E convencidos de que os fins
justificam os meios, não se importam com os males que estão causando ao país,
dentro e fora de suas fronteiras.
28 DE MAIO DE 2014
REGULAÇÃO DA MÍDIA JÁ
ASSUSTA GRUPOS FAMILIARES
Proposta de regulação econômica dos meios de comunicação, evitando a formação de monopólios ou oligopólios no setor, será o novo cavalo de batalha da sucessão presidencial; tema, inicialmente proposto por Franklin Martins no governo Lula, deve ser retomado pela presidente Dilma num eventual segundo mandato e já assusta grupos tradicionais, como a Folha, de Otávio Frias; manchete do Uol, do grupo Folha, nesta quarta, sinaliza que
a resistência será forte
247
- A regulação dos meios de comunicação será o
novo cavalo de batalha da sucessão presidencial. O tema foi incluído pelo PT em
seu programa de governo para um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e
já assusta grupos tradicionais da mídia familiar, como a Folha, de Otávio Frias
Filho.
Um
sinal de que a resistência será forte é a manchete desta quarta-feira do portal
de notícias Uol, ligado ao grupo Folha, dedicada ao tema. A reportagem de Valdo
Cruz e Andréia Sadi, no entanto, enfatiza que a proposta de Dilma não controla
o conteúdo dos meios de comunicação e trata apenas da regulação econômica do
setor, de modo a evitar monopólios ou oligopólios no setor.
A
proposta foi inicialmente lançada pelo ministro Franklin Martins, ainda no
governo Lula, mas não andou na gestão do ministro Paulo Bernardo, que poderia
levar a discussão adiante. Agora, está no programa do PT nos seguintes termos:
"A democratização da sociedade brasileira exige que
todas e todos possam exercer plenamente a mais ampla e irrestrita liberdade de
expressão, o que passa pela regulação dos meios de comunicação –impedindo
práticas monopolistas– sem que isso implique qualquer forma de censura,
limitação ou controle de conteúdos".
De
acordo com a reportagem da Folha, o alvo principal é a Globo, que recebe mais
de 50% do bolo publicitário do País, a despeito de uma audiência declinante em
suas principais atrações – isso se deve, em muitos casos, a práticas
anticompetitivas, como o bônus de veiculação pago a agências de publicidade.
Com
isso, publicitários recebem prêmios financeiros se direcionarem mais verbas
para a emissora.
De acordo com a reportagem da Folha, a
regulação da mídia hoje tem o apoio de Dilma, do ex-presidente Lula, do
ministro Aloizio Mercadante, de Rui Falcão, presidente do PT, e, claro, de
Franklin Martins, que atuará na campanha à reeleição.