12 DE MAIO DE 2014
LIBERDADE COM
RESPONSABILIDADE
A imprensa pode falar mal de todo mundo, inclusive com inverdades, mas ninguém pode falar mal da imprensa. Essa foi a conclusão a que se chegou no 6º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia
A imprensa pode falar mal de todo mundo, inclusive com
inverdades – o que se tornou uma prática vergonhosa em parte da mídia do país –
porque isso é próprio da democracia, mas ninguém pode falar mal da imprensa,
porque isso é prejudicial à democracia.
Essa foi a conclusão a que se chegou no 6º Fórum Liberdade
de Imprensa e Democracia, realizado recentemente em Brasília, onde os
principais palestrantes foram justamente os integrantes dessa imprensa que,
usando como biombo o direito à liberdade de expressão, mente, distorce e omite
na ânsia de atingir o seu objetivo: destronar Dilma Rousseff do Palácio do
Planalto e, por via de consequência, enfraquecer o PT.
A Presidenta e o seu
partido, segundo o jornal "O Globo", são os culpados por tudo o que
de ruim acontece neste país, desde o vandalismo de manifestantes à violência
nas ruas, o lançamento de um vaso sanitário que matou um torcedor em Recife,
até o linchamento de uma inocente em Guarujá. Ninguém seria capaz de imaginar,
em passado recente, que um veículo de comunicação da importância e da tradição
do jornalão carioca chegasse a tamanho absurdo através de editorial. A
liberdade de imprensa certamente é fundamental para o fortalecimento da
democracia, mas liberdade com responsabilidade. Afinal, tudo tem limites.
No evento promovido em
Brasília, a colunista Eliane Cantanhêde, da "Folha", acusou o
ex-presidente Lula de incitar "manifestações contra nós", enquanto a
colunista Denise Rothemburg, do "Correio Braziliense", disse que "ninguém
mais aguenta a acusação de que fazer uma matéria crítica é golpe".
Em primeiro lugar ninguém, está incitando alguém – e nem
precisa – contra a imprensa tendenciosa, porque ela própria, com seu noticiário
faccioso, está se desacreditando.
Em segundo lugar, é preciso não confundir crítica com
mentiras e agressões, como vem ocorrendo. A crítica é de fundamental
importância para o regime democrático, desde que séria e isenta.
O tratamento que esse
setor da imprensa tem dado aos acontecimentos envergonha os jornalistas sérios
e responsáveis. Enquanto se classifica como regalia e se noticia com
estardalhaço, como se fora um fato escandaloso, a visita de Maria Saragoça ao
pai, José Dirceu, na prisão, não se considera escândalo a atitude de um
senador, aspirante a Vice-presidente da República, que manda um blogueiro a
PQP, aos berros.
Enquanto se noticia como escândalo a citação do nome do
ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, numa conversa entre o doleiro Youssef
e o deputado André Vargas, gravada pela Policia Federal, na linguagem da TV
Globo, por exemplo, o propinoduto e o cartel no metrô paulista, alvo de uma CPI
requerida pelos governistas, viram "obras do Estado de São Paulo". A
nova classificação de corrupção só pode ser entendida se a Globo quis usar uma
linguagem figurada, referindo-se àquela "obra" de odor muito
conhecido.
O que está acontecendo é
que, na defesa dos seus interesses políticos e econômicos, a chamada Grande
Imprensa perdeu a ética, perdeu os escrúpulos, perdeu o profissionalismo e
perdeu o compromisso com o leitor, tornando-se cínica. Para essa parte
importante da mídia, os fins justificam os meios. E abusando da preguiça mental
de muita gente, impõe suas idéias.
Infelizmente, parte da população parece que perdeu a
capacidade de raciocínio – ou simplesmente se acomodou – habituando-se a pensar
pela cabeça dos Marinho, dos Mesquitas, dos Frias e dos Civita, os quais,
através da estrutura montada pelas suas agências de notícias, levam seus
pensamentos aos quatro cantos do país, onde são assimilados pelos que preferem
manter a massa cinzenta hibernando.
Desde o desaparecimento
das tradicionais agências de notícias, entre elas a Asapress, no início da
década de 80 do século passado, os jornalões aproveitaram a estrutura criada
pelas sucursais e correspondentes em todo o país para montar suas próprias
agências e, assim, surgiram a Agência Globo, Agência Folha e Agência Estado,
cujas notícias são publicadas do Acre ao Chuí, pelos jornais locais, com o
mesmo texto venenoso publicado em sua origem, contaminado por distorções, tendências
e paixões.
Assim, com a conivência ingênua, burra ou deliberada dos
veículos de comunicação menores espalhados pelo interior do país, eles formam
uma opinião nacional contra ou a favor de alguém ou alguma coisa. Graças a esse
mecanismo é que a presidenta Dilma Rousseff vem caindo nas pesquisas.
Até o ministro Joaquim
Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, que tem sido beneficiário
dessa imprensa passional, já defendeu a necessidade de uma regulação, que não é
censura, para conter esse comportamento extremamente danoso ao próprio regime
democrático.
Habituada a gritar contra qualquer tentativa de balizamento
do seu noticiário passional, classificando os projetos de censores e ameaças à
liberdade de expressão, a chamada Grande Imprensa não soltou um gemido diante
da declaração do presidente do STF, mas certamente vai promover uma mobilização
nacional e internacional caso alguém, que não seja o ministro Barbosa, ouse
apresentar qualquer projeto de regulação.
E até que alguém tenha coragem para tanto, vamos ter de
continuar convivendo com esse tipo de jornalismo comprometido apenas com os
interesses, políticos e econômicos, dos barões das comunicações.
SOBRE O AUTOR
Ribamar Fonseca
Jornalista, membro da Academia Paraense de Jornalismo e
da Academia Paraense de Letras; tem 16 livros publicados