1 blog - 1 página - + de 30 grupos - 339.314 visualizações
VIOMUNDO
O QUE VOCÊ NÃO VÊ NA MÍDIA
publicado em 13 de janeiro de 2015
Nassif, os livros didáticos
e os 50 mil reais para
Ali Kamel
Ali Kamel e a guerra dos livros didáticos
Eu sou Luis Nassif
Luis Nassif
A cartelização dos grupos de mídia foi o passo inicial do
pacto de 2005, que teve como grande mentor o finado Roberto Civita, da Editora
Abril, baseado no modelo Rupert Murdoch – o australiano que se mudou para os
Estados Unidos e definiu uma estratégia pesada de sobrevivência, que acabou
servindo de modelo para grupos de mídia inescrupulosos.
A lógica do pacto era simples e tosca como o jornalismo de
Murdoch. Com a Internet, vinham pela frente mudanças radicais trazendo o maior
desafio da história para os grupos de mídia, mais do que o advento do rádio e
da televisão, porque muito mais difícil de enquadrá-la em regulamentação – como
foi o caso da Lei das Concessões, que restringiu a competição e entregou o filé
mignon aos grupos já estabelecidos.
***
A estratégia murdochiana consistia em criar um clima de
guerra, instaurar um macarthismo feroz debaixo do qual caberiam todas as
jogadas comerciais necessárias para assegurar a sobrevivência dos grupos de
mídia em novos mercados.
Dentro dessa estratégia, em 2007 explodiu uma guerra hoje
em dia pouco lembrada, em torno dos livros didáticos e dos cursos apostilados.
Considerou-se que o mercado de livros didáticos poderia ser uma das novas
frentes dos grupos de mídia, seguindo a picada aberta pelo grupo espanhol
Santillana, controlador do jornal El Pais.
***
A Abril entrou no mercado de livros didáticos e cursos
apostilados através de uma nova divisão, na qual incorporou as editoras Ática e
Scipione, que havia adquirido em sociedade com o grupo francês VIvendi; e a
Globo tentou uma sociedade com a UNO, braço do Santillana.
***
Recorreu-se ao macarthismo para afastar competidores.
No caso da Veja, a uma parceria com um site de direita,
criado para denunciar infiltração comunista no ensino.
Com base no site, a
revista publicou uma reportagem sensacionalista denunciando um competidor no
mercado de cursos apostilados.
Era matéria falsa, baseada em informação
desmentida pelo próprio acusado, mas que não foi respeitada na reportagem
publicada.
Coube à blogosfera desarmar a armação, denunciando a
informação falsa e divulgando trechos de livros de história da Ática e da Scipione
com as mesmas análises condenadas no material concorrente.
Desmascarada, a revista acabou publicando um “Erramos”,
episódio raro em sua história.
***
A segunda frente foi conduzida por Ali Kamel, já elevado a
diretor da Globo.
Em 18 de setembro de 2007 publicou coluna no jornal O
Globo, prontamente reproduzida no Estadão, denunciando o conteúdo subversivo de
um campeão de vendas, o coleção “Nova História Crítica”, de uma editora
nacional.
As denúncias foram repercutidas nos demais veículos da Globo, da
revista Época ao Jornal Nacional.
Kamel denunciava o livro por suposta apologia a Mao
Tse-tung selecionando a parte que enaltecia Mao:
“Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu
livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice.
Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao
é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um
ditador.”
E sonegando a parte que o criticava:
“Como governante, agiu de forma parecida com Stálin,
perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a
imagem oficial de que era infalível.”
Sobre a revolução cultural chinesa, Kamel mencionava o
trecho:
“Foi uma experiência socialista muito original. As novas
propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos,
abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas”.
E escondia a crítica:
”O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado
foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (…) Mao (…)
agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando
recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.” (p.
191) ”Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um
campo de reeducação política. (…) Nas universidades, as vagas eram reservadas
para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (…) Antigos
dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes
que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela
não ter nada a acrescentar ao país…”
Sobre a revolução russa, o mesmo procedimento:
“É claro que a população soviética não estava passando
fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar
e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino
era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as
melhores faculdades. (…) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três
maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas…
E escondia as críticas:
”A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas
as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (…). Quem
criticasse o governo ia para a prisão. (…) Em vez da eficácia econômica havia
mesmo era uma administração confusa e lenta. (…) Milhares e milhares de
indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis
Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas…”.
No dia seguinte ao artigo de Kamel, o diário El Pais (dono
da Santillana), publicou artigo repercutindo internacionalmente a denúncia e
afirmando que “el libro de texto ensalza el comunismo y la revolución cultural
china”.
No mesmo dia, o ex-Ministro Paulo Renato de Souza (em cuja
gestão o livro passou a integrar as obras do MEC) publicou no site do PSDB a
informação de que entraria no dia seguinte com representação na Procuradoria
Geral da República para retirar a Nova Historia Crítica do mercado.
No seu site pessoal, a informação de que sua consultoria
tinha entre seus clientes a Santillana.
***
Conseguiram matar um campeão de vendas. Mas o contraponto
da blogosfera produziu tal desgaste que a estratégia acabou abandonada, para
alívio das editoras e dos autores concorrentes.
Restou o esperneio, o uso do poder da Globo para processar
jornalistas que ousaram investir contra a estratégia traçada.
PS do Viomundo:
Enquanto as Organizações Globo celebram a liberdade de
expressão do Charlie, seu mais alto executivo de Jornalismo processa sete
blogueiros na Justiça pelos mais diversos motivos, inclusive uma piada e uma
peça de ficção. Luis Nassif foi o mais recente condenado em primeira instância
a pagar 50 mil reais de indenização a Kamel. Quanto às tentativas da
Globo de reescrever a História, estas devem ficar longe até mesmo de qualquer direito de
resposta.
Leia também:
TV
AFIADA
Publicado em 14/01/2015
Eu sou Luis Nassif
Liberdade de expressão só na
França, Kamel ?
PAULO HENRIQUE AMORIM
DO BLOGUEIRO:
A PRÓXIMA POSTAGEM TRATARÁ A CONTINUIDADE DESTA SITUAÇÃO...