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TELHADO DE VIDRO
publicado 21/03/2015
por Helena
Sthephanowitz,
para a Rede
Brasil Atual
Cid Gomes
disse
mais em um minuto,
do que
Aécio poderá em 8 anos
Ex-ministro escancarou com que tipo de pressão Dilma está
sendo obrigada a lidar, com os parlamentares eleitos em 2014. É inegável que o
povo percebe o ambiente
de acordos entre deputados
Numa semana em que a mídia tradicional turbinou a
repercussão das manifestações "contra a corrupção" de domingo
passado, o fato político realmente relevante aconteceu dentro do plenário da
Câmara, quando o agora ex-ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), disse em alto
e bom som que aquela Casa Legislativa abriga "achacadores" – gente
que só pensa em vantagem pessoal e partidária em vez de atuar republicanamente
na construção de uma sociedade equilibrada e de um país que tenha como meta e
missão a erradicação de toda forma de injustiça.
As declarações de Cid Gomes mostram que a oposição ao
governo federal também vive seu inferno astral, em franca crise política, por
escolher o caminho do quanto pior, melhor.
É inegável que a imagem dos parlamentares cronicamente
opositores está desgastada.
Mais além: ficou claro que Cid Gomes disse mais em um
minuto de sua fala na Câmara dos Deputados do que o senador e candidato
derrotado à Presidência, Aécio Neves deveria dizer como oposição, mas nunca
poderá nem conseguirá dizer.
O povo não entende a atuação dúbia do PSDB de atacar só o
PT e poupar partidos da base governista como o PP e o PMDB. O povo enxerga jogo
de cena, acordos velados de bastidores e um velho jeito de fazer política
voltado a preservar privilégios só para os "amigos". Privilégios que
chegam à impunidade.
No fundo, Cid Gomes falou o que líderes da oposição, da
qual Aécio é a face mais midiática, teriam obrigação de dizer e, se dissessem
até poderiam melhorar suas chances nas urnas.
Mas nunca veremos, ao fim dos oito anos de mandato como
senador que o tucano tem até 2018, ele fazer um discurso como o de Cid,
simplesmente porque tem "rabo preso", por puro interesse político
eleitoreiro.
A parte do PMDB e do PP que Cid Gomes classificou como de
achacadores é aquela que apoiou Aécio em 2014. Alguns ostensivamente e outros,
veladamente.
O episódio, que pode ter criado um embaraço para o
Executivo, mas escancarou à população com que tipo de gente a presidenta Dilma
está sendo obrigada a lidar, com o Congresso eleito pelo voto em outubro
passado, começou com mais um fato ampliado pela mídia em sua ofensiva golpista.
Cid Gomes havia feito uma avaliação em ambiente restrito
criticando a parcela de deputados que, segundo ele, usava seus mandatos para
emparedar o governo e obrigando-o a acatar suas demandas, desejos e vaidades,
ainda que em prejuízo do país e da sociedade brasileira.
A declaração vazou para a imprensa, tornou-se pública,
gerou editoriais e bravatas, abriu uma crise entre o então ministro e a Câmara
dos Deputados, que o convocou para "explicar-se", em mais um evento
que se previa um espetáculo para a televisão.
Cid Gomes, porém, disse respeitar o Parlamento, mas
repetiu, agora publicamente, todas as críticas aos que se aproveitam de compor
a base aliada do governo, com seus partidos nomeando ministros e secretários,
mas agem como oposição.
Disse muito claramente que os partidos que desejam fazer
oposição deveriam "largar o osso". Chegou a dirigir-se diretamente ao
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respondendo que preferia ser
chamado de mal-educado do que de "achacador", como Cunha estava
aparecendo nas manchetes dos jornais.
A confusão foi grande com deputados que vestiram a carapuça
e usaram termos ofensivos contra o ex-ministro. Cunha, com sua aversão crônica
pela democracia, cortou o microfone de Cid, que retirou-se da Casa.
Ao sair, em entrevista, reiterou o que havia dito e
defendeu os esforços da presidenta Dilma para tentar qualificar a política e da
árdua luta para a combater a corrupção em ambiente adverso.
Em seguida pediu demissão pelo "sincericídio",
pois é óbvio que, por mais que muita gente pense igual à ele, é impossível ter
responsabilidade de governar e, ao mesmo tempo, declarar guerra aberta e
pública à boa parte de base governista na Câmara.
Cid Gomes vocalizou o que a base eleitoral de Dilma
Rousseff nas ruas e nos lares brasileiros vive. A sensação de que o Congresso,
de forma generalizada, está pouco ou nada se importando com o eleitorado. E que
nada barrará a oposição capitaneada por PSDB e DEM para atingir seus objetivos
políticos.