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1 de Agosto de 2015
Prender o arquiteto
do submarino nuclear,
ou como cutucar a onça
com vara curta
Vamos dizer- para efeito de qualquer delação premiada – que, no
Brasil do Lava a Jato, haja realmente justiça – aquela limpidamente cristã,
cantada em rezas tonintroantes por certos pastores, principalmente no Congresso
Nacional.
E que as provas que o juiz Moro tem em mãos a partir de uma
Polícia Federal (até segunda ordem, escancaradamente parcial), sejam, desta
vez, respeitáveis, irrefutáveis – algo que, num julgamento regular, em
princípio, só existe se devidamente estribada, não no juízo singular de um juiz
– mas ao fim de um julgamento regular, sem interferência de nada que lhe seja
estranho ( tais como as opiniões de alguns jornalistas). Será aceitável – até
quando ? – que um juiz de primeira instância ponha na cadeia qualquer cidadão a
seu talante; e que tudo fique em brancas nuvens para Suprema Corte do Brasil?
Os negócios da Petrobrás estão à beira da
inação.
O homem que dirigia a construção do submarino nuclear, um dos
maiores cientistas nucleares brasileiros – o tal submersível em construção, que
é a menina dos olhos das Forças Armadas – foi detido. Está preso. Delação
premiada.
Até quando?
O clima é de absoluta perplexidade.
Há, ao que tudo indica, uma revolução. (reboliço na verdade) no
Brasil de hoje, só que comandada, inacreditavelmente, pela Justiça brasileira.
Para muitos é, de fato, a glória redentora.
Segmentos da classe média, na melhor das hipóteses, julgam que,
com a paralisação do país, com o fim inclusive dos próprios empregos, os
brasileiros iremos para o paraíso almejado e merecido. Em miúdos e para dizer o
que , para alguns, julgam dever ser dito.
Tudo será melhor quando os petralhas forem presos; é o que
afirmam inclusive muitos leitores dos blogs que conhecemos.
A desgraça seria o PT: Lula não fez o
Brasil crescer – é mentira dos petralhas.
A saída do Brasil do mapa da pobreza absoluta é uma invenção da
ONU.
A Odebrecht é uma empresa corrupta que tem, "por acaso: ,
mais de cem mil funcionários. Ela está estagnada à espera do que a aguarda ao
fim da prisão de seus diretores e de seu proprietário.
Que assim seja –reza esta parte da
opinião pública. Não importa o fim do projeto do submarino nuclear ( aliás, é o
que importa); os 'Moros"da justiça brasileira querem pôr tudo a limpo.
Vamos que vamos.
Mas há complicadores, evidentemente. Até agora
os "russos"( isto é, as Forças Armadas brasileiras) não foram
consultados sobre o projeto sub-reptício na construção dos juízes e
procuradores do Lava a Jato, de desmontarem o Brasil, num golpe "legalista
que extirpa a economia e, por tabela, o PT.
Sem alarmismos, talvez ocorra aos mais
avisados, e é bom advertir mesmo, que, a essas alturas talvez estejam mexendo
na onça com vara curta.
Valeria, aliás, uma pequena ilação.
Na antiga Florença, da Renascença, deu-se
que um monge - Girolamo Savonarola (1452-14980) - diante da corrupção da Igreja
da época, resolveu tomar para si e seus acólitos, a tarefa de reformar o
catolicismo. Que fez ele? Começou por derrubar todas as autoridades. Ato
contínuo, principiou por clamar pela reforma dos costumes e então, como
primeira providência, passou a queimar e a ameaçar tudo o que lhe parecia fruto
da perversão: as obras de arte, os livros, e logicamente os prevaricadores, os
suspeitos de ladroagem e os pecadores - não apenas os governantes, mas os
artistas. Um dos convertidos pelo puritanismo fundamentalista do religioso
florentino, foi exatamente um dos maiores pintores de todos os tempos: Sandro
Botticelli (1495-1510). Ele acedeu em queimar suas obras consideradas obcenas-
muitos nus, obras maravilhosamente "licenciosas" que evidentemente
eram um dos alvos de Savanarola.
O monge e outros, inclusive Boticcelli,
talvez tenham sido um dos primeiros proto-evangélicos daqueles tempos.
Botticelli devia ser um cristão sincero. Repugnava-lhe a decadência da Igreja,
a corrupção, o cinismo, a hipocrisia e tutti quanti. Mas literalmente
assassinou seus quadros. Matou-os para nós, a posteridade, que o tem como um
dos maiores artistas de todos os tempos. Só que a história evidentemente teve
um fim trágico, não para o artista, -ainda bem, -mas para o tal monge. Depois
de uma glória efêmera, em que foi reverenciado por toda Florença, aconteceu a
reação. E, infelizmente, para os não fanáticos, ao contrário dele próprio,
Savanarola - prenderam-no, torturaram-no e o queimaram sob todos os suplícios
possíveis, que era o que aqueles tempos também malfadados cultivavam.
Nada de comparações, com a licença da rememoração.
Mas os juízes que se fazem porta-vozes do
STF, as coisas estão indo para o pior dos mundos no Brasil. Já foi dito: sem o
consentimento dos ilustres ministros do STF, o dr. Sérgio Moro não estaria
fazendo o que o estão permitindo que faça ( "obrar" seria talvez a
palavra mais adequadda). Prender todos os que ele desconfia serem corruptos,
lembra um pouco aquele personagem de "O alienista"de Machado de Assis
, Simão Bacamarte, que se julgou o juiz dos juízes e prendeu quem lhe dava na
telha, no manicômio modelo que ele fundou em sua cidade, Era um psiquiatra e
diagnosticou que quase todos na sua comunidade eram malucos. E então internou
em seu hospício quem a sua sanha e as suas convicções inamovíveis e
preconceituosas julgavam ser doentes - ou corruptos.
Coisas de um fundamentalista.
Certo. Já se sabe que os antipetralhas,
os antipetistas sem causa inteiramente injustas (pois ninguém lhes nega
reivindicarem que muitos acusados do Lava a Jato merecem mesmo alguns anos de
cadeia) vão protestar.
São os coxinhas.
Uma parcela da juventude tomadas pelo fanatismo, que troca a
tradição da generosidade juvenil pelo moralismo senil que existe na nossa
sociedade mais careta, estão prestes e prontos para protestar. E se sabe que
vão desembocar no pior do bom-mocismo - que é o fanatismo, devidamente
fomentado pela grande mídia - e que ignoram as consequências dos atos desses
"meninos "do Paraná - como definiu muito bem os juízes do Lava a Jato
de Curitiba, o conservador Cláudio Lembo
Ou seja, Sérgio Moro pensa ter chegado ao
nirvana da sua visão de justiceiro ao prender um dos decanos da física nuclear
brasileira, não por acaso, até ontem, membro da Marinha Brasileira.
A ninguém ocorre que ao encarcerar um dos maiores arquitetos do
submarino nuclear, o juiz Moro está furuncando um abelheiro. Pode a presidente
Dilma, como é de seu hábito, não dizer nada, já que não tem mesmo nada a dizer.
Mas aos "russos", que não são petralhas ( com o perdão
dos coxinhas), talvez não agrade de modo algum, serem tolhidos em seus projetos
que são inegavelmente de interesse nacional. Ninguém de país algum que tenha um
tesouro como o pré-sal vai pensar que os militares - apesar de sua submissão a
Washington no passado - não tenham lá as suas veleidades de salvaguardarem um
país como o Brasil - que essa é a sua obrigação.
E que projetos como as de compra da
tecnologia de caças da Suécia não tenham importância. Ou de que o submarino
nuclear prescinda de certas figuras como o vice-almirante, detido pelo dr.
Sérgio Moro - que isso, em suma, seja um fato de somenos importância para
aquilo que os membros das Forças Armadas considerem fundamental para a
Soberania Nacional.
São reflexões que não ocorrem evidentemente às classes médias e
seus correlatos, os coxinhas, dentre os quais se inclui o dr. Sérgio Moro.
Como membro do todo poderoso judiciário, representante máximo do
STF, talvez pouco se lhe dê que o Brasil possa voltar a sua condição de
republiqueta, ainda que em nome da moralidade pública.
Enganam-se, provavelmente.
Savonarola pensava ter Deus a seu favor.
Isso até o dia em que os realmente poderosos entrassem em Florença e o pusessem
de joelhos.
Digamos, enfim, que haja justiça no
Brasil e que o representante do STF ache poder fazer tudo o que lhe sugere uma
PF sem controle.
A idéia é a corrente: todos concordamos que a corrupção da
Petrobrás e outras tantas devam ser exemplarmente punidas.
Mas poupar os cartéis
ligados ao PSDB, como os que se formaram no metrô de São Paulo e de Furnas em
Minas - para só citar alguns crimes inconvincentemente esquecidos pelo Lava a
Jato- não convencem.
São um escândalo (o mais imbecil dos brasileiros deveria entender isso) .
Ou melhor, convencem sim: não só os anti-petralhas, os convictos
coxinhas do PSDB, do DEM, do PDS e aos incautos.
Para eles é bom que o
juiz Moro prenda e arrebente, mesmo que isso estropie o Brasil e seus projetos.
O difícil, porém, agora, vai ser
convencer os "russos".
Hajam argumentos.
Jornalista, escritor e artista plástico