FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
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26/11/15
Todos estão
perdendo nesta
briga
Crime é crime em qualquer circunstância e seja lá quem o
cometa. Corrupção é corrupção, independentemente da filiação política,
religiosa ou sindical de quem roube. Esse é o entendimento das pessoas comuns
que, mesmo as com maior nível de instrução formal, têm um raciocínio simples e
objetivo acerca do que é certo e do que errado e de como as coisas devem
funcionar.
Rejeitam a complexidade do raciocínio jurídico que complica
o que é simples, as dificuldades burocráticas que infernizam suas vidas, o
discurso prolixo que parece estar sendo feito apenas para embromar e enrolar.
As pessoas comuns, especialmente as de bem, também não gostam de privilégios
para alguns e manifestações externas de poder.
Não tem nenhum sentido
revestir ou encobrir um crime ou um roubo de dinheiro público pela luta
política. Os que procuram fazer isso já deveriam ter entendido que, além de não
levar a nada, essa não é a percepção da população. O criminoso e o corrupto têm
de se submeter a todos os ritos policiais e judiciais, sejam governistas ou
oposicionistas, de esquerda ou de direita, petistas ou tucanos, e assim por
adiante.
As tentativas feitas
no Senado para livrar o senador Delcídio do Amaral da prisão decretada pelo
Supremo Tribunal Federal não deixaram bem os que defenderam o voto secreto e a
soltura do parlamentar. Estava claro que o voto secreto estava sendo defendido
para dar aos senadores uma chance de livrar Delcídio da prisão sem prestar
contas aos eleitores.
As alegações de respeito à Constituição e defesa da
soberania do Legislativo foram meros pretextos para que os senadores
protegessem o colega e se autoprotegessem de ter de encarar o mesmo destino.
Os deputados e senadores que fizeram e aprovaram a
Constituição de 1988 estabeleceram, convenientemente, que só podem ser presos
em flagrante. Certo, é o que está vigente, mas é claro que fizeram isso para
terem um privilégio negado às pessoas comuns, pois a imunidade parlamentar
deveria estar restrita à manifestação de opinião, por palavras e votos.
De qualquer maneira, o Supremo Tribunal Federal entendeu
que o crime continuado, com o objetivo de obstruir a ação da justiça, justifica
a prisão preventiva em flagrante.
A soberania do
Legislativo não se estende à extraterritorialidade ou à proteção de criminosos
que se abrigam no Congresso. É absurda a existência de uma aberração denominada
“polícia legislativa”, que se sente no direito de impedir o acesso de agentes
da Polícia Federal aos prédios do Congresso ou a residências de parlamentares.
A necessária soberania do Legislativo também nada tem a ver
com impedir o cumprimento dos ritos policiais e judiciais pelos suspeitos de
terem cometidos crimes, ainda que sejam “excelências” que usem os ridículos
broches de parlamentar na lapela.
Não interessa se
Delcídio é do PT ou se foi do PSDB. As gravações mostram que cometeu um crime.
Não interessa se o banqueiro André Esteves é mais amigo de Lula e Mantega ou de
Aécio e Serra. Pelo jeito, é também suspeito de crime grave.
Não tem sentido querer
impedir ou desqualificar as investigações da Lava-jato ou da Zelotes, ou
qualquer outra, porque a maioria dos suspeitos esteja vinculada ao PT e
partidos aliados do governo. Mas têm razão os que reclamam da seletividade das
investigações da Lava-jato, que parecem se limitar aos governos petistas,
deixando de lado os tempos tucanos.
Têm razão também os que protestam contra a marcha
lentíssima em que andam os processos referentes aos mensalões tucanos e do DEM
e à notória corrupção nos contratos ferroviários de São Paulo.
A chamada grande
imprensa também politiza as operações contra a corrupção, ao enfatizar as
vinculações governistas dos acusados e minimizar as ligações com o PSDB e seus
próceres. Mas há tempo a grande imprensa tomou uma clara posição política e, em
diferentes graus, não esconde isso.
A corrupção
desenfreada não começou em 2002, com Lula, nem se limita à esfera federal.
Houve corrupção em governos anteriores e ainda há em governos estaduais e
prefeituras de partidos que fazem oposição ao governo federal. Mas é bobagem os
petistas e aliados quererem reduzir a importância do que está sendo investigado
e apurado como se fosse apenas luta política.
A maioria da população
não aceita mais a corrupção, nem as firulas jurídicas e os discursos
politizados para defender os corruptos. Não aceita também que parlamentares
que, além de tudo são comandados por Renan Calheiros e Eduardo Cunha, tenham
privilégios e se coloquem acima das pessoas comuns.
A postura dos partidos
diante das investigações, de um lado e de outro, só tem contribuído para desmoralizar
cada vez mais a política e os políticos. Não é só o PT que está perdendo, e
muito. São todos. Isso já poderá ser verificado nas eleições do ano que vem.