FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
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19 de Dezembro de 2015
Colunista
do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos
brasileiros
A disputa internacional
em torno do Brasil
O Brasil havia desaparecido da
agenda mundial desde o fim da ditadura. Episodicamente reaparecia, como na
campanha para a derrubada do Collor, na eleição - e a euforia
correspondente – de FHC como presidente, mas logo o Brasil voltou para a
penumbra. Ressurgia quando havia privatizações, com os capitais abutres
correndo comprar na liquidação a bom preco do patrimônio publico ou fugindo nas
crises.
A eleição do Lula desconcertou os meios que formam a opinião
publica mundial. Depois de superado o período histórico “populista, estatista”,
nao se entendia bem como um ex-lider sindical, operário de um partido de
esquerda, fosse eleito presidente do Brasil em pleno século XXI.
No começo, o
noticiário internacional era uma mistura de anúncios de “traição” do novo
presidente e de supostas manifestações populares contra ele, com denuncias de
corrupção. Mas tratavam o governo Lula como um fenômeno passageiro, ponto fora
da curva, caso folclórico, quase um mal entendido, que logo seria superado pela
realidade implacável da globalização.
De repente, a imagem do Lula e a do Brasil mudaram. Era o pais
que, em meio ao aumento da desigualdade e da pobreza no mundo, combatia a
miseria e seu líder se tornava o líder da luta contra a fome e a exclusão
social pelo mundo afora. Os lobbies midiáticos internacionais tiveram que se
render, a contragosto, a esse novo fenômeno.
Wall Street Journal, Financial Times, The Economist, El Pais ou
calavam ou não mencionavam a liderança do Lula em escala mundial. Pelo
menos tiveram que reproduzir o Obama chamando-o de “the guy”.
Era um gol que a luta pelos direitos de todos, contra o neoliberalismo,
fazia, em escala global. Lula era um intruso de sucesso nas reuniões
internacionais, era convidado para dezenas de países, especialmente da Africa e
de outras regiões que viviam problemas que o Brasil estava em vias de superar.
Até que chegaram as manifestações de junho de 2013 e começou um
processo orquestrado de desconstrução da incomoda imagem do Brasil por esses
meios formadores da agenda internacional da mídia. A eles se juntaram as vozes
da ultra esquerda em órgãos da mídia, igualmente incômodos com o sucesso do
Lula e do Brasil.
A imagem do Brasil foi rapidamente revertida, para o pais dos
gastos milionários para a Copa, cujo governo era repudiado por milhões de
jovens por todo o pais. A Copa não seria realizada ou, se fosse, o seria em
meio a uma brutal repressão de imensas manifestações populares de repudio.
Nada disso ocorreu, mas a desconstrução da imagem do Brasil do
Lula teve continuidade na imagem de um pais corrupto. Depois de breves lapsos
de esperança de derrota do governo nas eleições – que seria coerente com a
imagem de um governo repudiado transmitida internacionalmente – veio a onda do
pais corrupto, a partir das denuncias sobre a Petrobras.
É como se todos os imensos avanços sociais tivessem sido abolidos,
como se o Brasil do Lula tivesse disso uma ilusão passageira, que a brisa
primeira levou. Como se se tratasse apenas de um pais violento, corrupto, com
um governo repudiado pelo povo. Qualquer noticia de suposta corrupção que
envolveria o governo é imediatamente reproduzida como se fosse uma realidade
pelas agencias internacionais.
Paralelamente, se tentou levantar lideranças alternativas na
America Latina, sem sucesso. O caso do Mexico nao resistiu aos primeiros
problemas do governo de Peña Nieto. Outros lideres de direita, como Piñera,
Uribe, foram derrotados pelo povo dos seus próprios países, enquanto o PT
triunfava pela quarta vez sucessiva. Dificilmente vao conseguir fazer da
Argentina de Macri uma alternativa ao Brasil
A disputa em torno do significado do Brasil hoje no mundo é a
disputa na luta entre vias de superação do neoliberalismo e das desigualdades,
de que o Brasil é uma referencia central, ou a rendição aos velhos esquemas do
Consenso de Washington, que fracassam aqui e fracassam também na Europa e nos
EUA – de onde esses órgãos da mídia provem.