FCO.LAMBERTO FONTES
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A agroecologia é
um sistema de produção agrícola alternativa que busca a sustentabilidade da
agricultura familiar resgatando práticas que permitam ao agricultor pobre
produzir sem depender de insumos industriais como agrotóxicos, por exemplo. –
Charge por Latuff, no Humor Político
[EcoDebate] As concepções de pesquisa multiestratégica de Hugh Lacey parecem
ser a compatibilização da interação da ciência moderna com as formas
tradicionais e informais de obtenção de conhecimento, que hegemonizam
principalmente culturas que se apropriam de transmissões orais.
Seu objetivo e sua estrutura dependem do modelo da interação
entre as atividades científicas e a partir de arranjos de interações entre as
atividades científicas e os valores existenciais.
Esta abordagem tem sido desenvolvida nos últimos anos por
integrantes do Grupo de Pesquisa de Filosofia, História e Sociologia da Ciência
e da Tecnologia da Universidade de São Paulo (USP), no âmbito do projeto
“Gênese e significado da tecnociência: das relações entre ciência, tecnologia e
sociedade”.
Foram organizadas atividades para padronização dos modelos de
interação entre as atividades científicas e os valores existenciais. E para
ilustrar tanto a potencialidade de seus recursos conceituais críticos quanto
sua capacidade de fornecer alternativas efetivas.
O dossiê, publicado em “Scientiae Studia” originalmente, contém
artigos que consideram a ligação da ciência moderna com o controle da natureza
e a reavaliação, ocasionada pela adoção de arranjos de interação entre as
atividades científicas e os valores existenciais.
Ou seja, da ideia da racionalidade da ciência, para uma
consideração que valoriza todas as apropriações científicas.
Os arranjos de interação entre as atividades científicas e os
valores existenciais são ferramentas relevantes para a crítica dos sistemas
dominantes atuais e para identificar possibilidades alternativas e importantes
da pesquisa que não estão recebendo o devido reconhecimento nas instituições
científicas predominantes.
Existe uma soberba implícita no esboço do argumento de que há
uma incoerência profunda no auto-entendimento da tradição da ciência moderna,
que não se permite a qualquer forma de questionamento supostamente racional.
Há uma descrição de dois tipos ideais contrastantes, a
tecnociência comercialmente orientada e a pesquisa multiestratégica. Estes
tipos caracterizam as principais opções atualmente disponíveis para preservar a
continuidade do legado das realizações positivas da tradição científica Ou seja
a chamada tecnociência comercial.
E ciência existencial e tradicional, valores e alternativas. A
mente orientada predomina nas instituições científicas atualmente dominantes;
mas a pesquisa multiestratégica satisfaz melhor os ideais, afirmados ao longo
da tradição científica, de imparcialidade, neutralidade, abrangência e
autonomia.
A predominância da tecnociência comercialmente orientada conduz
ao fortalecimento dos valores do progresso tecnológico, bem como aos valores do
capital e do mercado.
E em grau importante, ao custo do enfraquecimento dos valores da
justiça social, da democracia participativa e da sustentabilidade ambiental e
local, enquanto a pesquisa multiestratégica pode servir para fortalecer esses
valores.
Existem problemáticas que seguem da hegemonia da tecnociência
comercialmente orientada nas instituições científicas contemporâneas, passíveis
de óbvias constatações quando apresentadas e comparadas com uma concepção
alternativa à inovação tecnocientífica, analisando o projetos desenvolvidos por
arranjos de interações entre as atividades científicas e os valores
existenciais que se expressam em tecnologias tradicionais e sociais.
É esta reflexão que foge a parâmetros lineares e cartesianos que
se elabora quando se questiona os processos de evolução e seleção natural,
meticulosamente abordado e descrito por Charles Darwin, que tem sido
responsável ao logo dos tempos pelas modificações naturais dos seres vivos
através de processos genéticos como mutações, interações gênicas e outros.
Principalmente quando se abordam as relações fragmentárias e utilitaristas de
biotecnologia e transgenia.
A biotecnologia tem exercido esta função de uma forma que requer
reflexões e ponderações. É preciso ter consciência que não existe tecnologia
sem risco. Pode nunca haver nenhum problema com tudo que está sendo realizado.
Mas podem vir a existir em longo prazo.
A filmografia hollywoodiana é pródiga em se inspirar nestas
efemérides.
Como se referiu, pode ser que esta substituição dos mecanismos
evolutivos naturais, em intervalos de tempos mais representativos, produzam
efeitos inesperados e determinem cenários inimagináveis.
Cautela é uma consequência natural da falta de informações
verídicas sobre os seus efeitos benéficos e maléficos em prazos longos. E sobre
as dificuldades de efetivar simulações dentro de molduras realistas.
Sem estimular falso alarmismo e sem se tornar arauto de fábulas
apocalípticas, o fato é que cada vez mais se precisa propiciar atitudes de
humildade diante da complexidade da situação, para que as teorias do risco, tão
propagadas por pensadores como Ulrich Beck e outros, permaneçam apenas como
miragens possíveis, e não se materializem como em cenários sombrios.
Mesmo que não se apregoe qualquer restrição às evoluções
científicas, não custa nada refletir com todas as partes interessadas que é
preciso ter um pouco de humildade nas atitudes.
Interferir na seleção natural, sem compreender todas as relações implícitas ou explícitas, e não lineares ou cartesianas da homeostase dos ecossistemas, seja estes ecossistemas englobando toda a terra ou um fragmento considerado, parece um pouco pretensioso na atual fase de conhecimentos da civilização humana.
Interferir na seleção natural, sem compreender todas as relações implícitas ou explícitas, e não lineares ou cartesianas da homeostase dos ecossistemas, seja estes ecossistemas englobando toda a terra ou um fragmento considerado, parece um pouco pretensioso na atual fase de conhecimentos da civilização humana.
Alterações genéticas para tornar plantas e animais mais
resistentes e, com isso, aumentar a produtividade de plantações e criações, é
claro que são sempre bem-vindas. Mas com os devidos cuidados da prevenção e
precaução. Para não tornar o mundo pior involuntariamente. Para não tornar
realidade a prolífica imaginação hollywoodiana, que é fértil em exemplos
bizarros.
A utilização das técnicas transgênicas permite que ocorram
inclusive alterações da bioquímica e do próprio balanço hormonal do organismo
transgênico, com consequências não conhecidas.
As concepções de Hugh Lacey exploram a visão positiva fornecida
pela pesquisa multiestratégica nas áreas da agroecologia, da saúde pública e da
interação da ciência moderna com maneiras tradicionais e indígenas de obter
conhecimento, particularmente quanto à sustentabilidade e ao manejo florestal.
A promessa da pesquisa multiestratégica não se limita apenas a
essas áreas, mas pode motivar investigações em áreas tais como comunicação,
informática, energia, transporte, conservação e uso da água.
O conjunto de abordagens que tem sido realizadas faz parte das
tentativas de fornecer uma firme sustentação filosófica e metodológica para a
pesquisa multiestratégica.
Com ilustrações de seu potencial e de sua agenda positiva,
contribuindo com os críticos da tecnociência comercialmente orientada. A partir
dos arranjos de interações entre as atividades científicas e os valores
existenciais, mostrando a plausibilidade e a promessa da pesquisa
multiestratégica em várias áreas.
É evidente que mais pesquisa multiestratégica precisa ser
conduzida para contribuir para a consolidação de alternativas mais conformes
com os valores da justiça social, de democracia participativa e de sustentabilidade
ambiental.
Referências:
LACEY, Hugh. Estudos
avançados 28 (82), 2014 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil.
LACEY, Hugh. A
controvérsia sobre os transgênicos: questões científicas e éticas. Aparecida:
Ideias e Letras, 2006.
LACEY, Hugh. Valores e
a atividade científica 2. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia;
Editora 34, 2010.
LACEY, Hugh.
Pluralismo metodológico, incomensurabilidade, e o status científico do
conhecimento tradicional. Scientiae Studia, v.10, n.3, p.425-53, 2012.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal
EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do
Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
LEIA + SOBRE A AGROECOLOGIA:
A
ignorância
é uma
benção,
artigo
de Daniel Clemente*
[EcoDebate] O sistema político
democrático é espantoso, causa direta de tristezas individuais e coletivas.
Atuando como se fosse um espelho, nos revela quem nós somos, e para negar essa
realidade que tanto nos assombra se faz necessário condená-lo.
A democracia brasileira golpeada pela história percorreu
caminhos tortuosos para chegar onde está momentaneamente, revelando piratas
disfarçados de políticos que saquearam todo o ouro nacional sem a necessidade
de desenterrá-lo.
Os usurpadores dos recursos públicos agora sendo denunciados
mostram através das macroeconomias a face do brasileiro nas micro-relações
diárias.
Por exemplo, quando se faz um “gato” na transmissão televisiva a
cabo, ao adquirir atestado médico com o propósito de “matar” do dia de
trabalho, apresentando “comprovante de miséria” para ser contemplado com
programas assistencialistas governamentais, elabora a “cola” na prova obtendo
nota sem mérito, desvia recursos hídricos, sonega impostos, suborna o policial
rodoviário por conta da habilitação vencida, oferece “adicional” ao médico para
ter preferência no atendimento público.
Enfim, o político atual nada mais é do que o reflexo da população
que o elegeu.
Mas para não assumir a culpabilidade de todo o caos, possível de
ser observado somente em sistemas democráticos, muitos preferem as máscaras de
um passado nostálgico, que não existiu em sua perfeição, sendo resgatado por
indivíduos que optam pela amnésia de seu próprio ser, e proclamam como a
salvação de todas as impurezas a volta dos militares ao poder.
Nada melhor do que a anulação da liberdade para não ter que
decidir e assumir erros e acertos de futuras decisões, a escravidão oferece suas
vantagens, o indivíduo deixa de ser o responsável por sua atuação, sendo
conduzido como uma marionete, bastando obedecer às ordens impostas, e aceitar
tudo o que lhe é oferecido.
O estrangulamento da imprensa complementará o desfecho suicida,
os corruptos não mais existirão, pois não serão denunciados, verbas públicas
não mais serão desviadas pois não haverá investigação, todos os servidores
públicos serão honestos pois não será revelada as suas desonestidades.
O cantor John Lennon dizia que “a ignorância é uma espécie de bênção, se você não sabe, não
existe dor”.
E nas diversas manifestações que se propagam pelo território
brasileiro, alguns grupos clamam por essa benção, pedem a volta dos militares,
não querem se reconhecer no espelho da democracia e ver que os políticos
eleitos muito se parecem com o próprio povo, e que para eliminá-los da vida
pública seria necessário uma mudança de postura, originando incômodo
individual, desmontando pequenos palanques, onde o ator que denuncia o drama é
o mesmo que propaga a comédia.
O grito pela volta dos militares ao poder federal é
desferido por aquele que concorda com a modalidade de politico “rouba mas faz”,
a sua imagem e semelhança.
Vê na pena de morte a justiça absoluta, pois seus crimes não
serão condenados a pena capital. Contrário a ascensão econômica das classes
baixas por meio do assistencialismo estatal, sendo que a desigualdade o mantém
em sua posição privilegiada.
A história da marcha das botas ao poder é narrada de forma heróica,
desprendida do contexto político mundial de sua época. Natural em um país que
ignora seu próprio povo negligenciando educação.
Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância.
*Daniel Clemente
Professor de História e Sociologia
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando em História, Sociedade e Cultura PUC-SP
Professor de História e Sociologia
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando em História, Sociedade e Cultura PUC-SP